Repressão
Já no começo do Regime Militar (1964-1985), o governo federal se utilizou das
mais diversas estratégias de coerção e controle da opinião pública. Os Atos
Institucionais e a censura prévia à imprensa foram apenas dois desses mecanismos,
amplamente utilizados ao longo de boa parte do período ditatorial no combate
aos setores de oposição.
A repressão oficial não impediu, no
entanto, que os mais variados grupos sociais tenham se mobilizado em reação aos
desmandos dos governos militares. Ao contrário, à medida que as censuras se
aprofundavam, os movimentos de resistência se radicalizavam, o que pode ser
evidenciado na Passeata dos Cem Mil e no crescimento de grupos subversivos
armados.Em cena, a resistência
O Pasquim (Foto: Reprodução)
No teatro, muitas apresentações continham um forte teor revolucionário. Nos palcos do Opinião, Oficina e Arena, espetáculos eram montados em represália ao conservadorismo social e ao limites políticos da época. O CPC (Centro Popular de Cultura), ligado à UNE (União Nacional dos Estudantes), partilhava das ideias de Bertolt Brecht, que entendia o teatro como uma “importante arma de combate político”. Com a outorga do AI-5, muitas companhias de teatro foram extintas, o que não invalidou, porém, a força combativa dessas encenações.
Em relação ao
cinema, boa parte das produções era realizada pelos artistas do Cinema Novo.
O movimento, que sempre teve nas reflexões sobre a identidade nacional
brasileira uma preocupação basilar, possuía agora no engajamento político e na
luta pela democracia suas mais importantes inquietações. Concomitantemente, o
Cinema Marginal, forjado ainda na década de 60, assumiu a vanguarda
cinematográfica no país, possuindo papel fundamental na conscientização
política acerca da dura realidade brasileira.
Música de protesto
Os anos 60 e 70
vivenciaram o esplendor da produção musical no Brasil. Compositores e cantores
como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto
Gil elevaram o cenário da música nacional a níveis de criatividade raramente
experimentados. Boa parte dessa produção foi motivada pela combativa
resistência à repressão militar, que então cerceava, através dos meios mais
perversos, as liberdades artísticas.
Disco tropicalista Panis et Circensis (Foto: Reprodução)
Nesse cenário,
os festivais de música se mostravam com um espaço formidável de expressão
artística e política. Neles, tanto os compositores, quanto a população
encontravam uma espécie de “válvula de escape”, nos quais a censura
governamental parecia ser, mesmo que momentaneamente, um tanto menos furiosa.
Os grandes festivais eram transmitidos por grandes emissoras de televisão da
época, como a TV Excelsior, Record e Globo.
Questão comentada
(Enem - 2ª aplicação 2010) Leia o texto a seguir:“A gente não sabemos escolher presidenteA gente não sabemos tomar conta da genteA gente não sabemos nem escovar os dentesTem gringo pensando que nóis é indigenteInútilA gente somos inútil”
MOREIRA, R. Inútil. 1983 (fragmento).
O fragmento integra a letra de uma canção gravada em momento de intensa mobilização política. A canção foi censurada por estar associada:
a) ao rock nacional, que sofreu limitações desde o início da ditadura militar. b) a uma crítica ao regime ditatorial que, mesmo em sua fase final, impedia a escolha popular do presidente.
c) à falta de conteúdo relevante, pois o Estado buscava, naquele contexto, a conscientização da sociedade por meio da música.
d) a dominação cultural dos Estados Unidos da América sobre a sociedade brasileira, que o regime militar pretendia esconder.
e) à alusão à baixa escolaridade e à falta de consciência política do povo brasileiro.
Gabarito comentado: a opção correta é a letra B, pois percebe corretamente a importância das manifestações culturais no combate ao autoritarismo do Regime Militar, que mesmo em seu período de maior fragilidade, ainda se utilizava de mecanismos diversos para coibir os movimentos de oposição.
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